segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Conversa de Lorde Henry Wotton e Basil Hallward...

"- A história é muito simples – disse o pintor, algum tempo depois. – Há dois meses, compareci a uma recepção na residência de Lady Brandon. Você sabe que nós pobres artistas, temos que, de tempos em tempos, nos exibirmos em sociedade apenas para lembrar ao público que não somos selvagens. De fraque e gravata branca – [...] – Bem, eu estava na sala, já fazia uns dez minutos, conversando com umas matronas imensas, de trajar exagerado, e com uns acadêmicos entediantes, quando, de repente, tive consciência de que alguém me olhava, Dei meia volta e, pela primeira vez, di Dorian Gray. Quando nossos olhos se encontraram, senti-me empalidecer. Fui tomado por uma sensação curiosa, de terror. Sabia que me deparara, frente a frente, com alguém cuja personalidade, por si só tão fascinante, me absorveria, caso eu o permitisse, toda a natureza, toda a alma, minha própria arte, e eu não desejava influência externas em minha vida. – Você mesmo sabe Harry, o quanto eu, por natureza sou independente. Sempre fui meu próprio dono; sempre fui, pelo menos até encontrar Dorian Gray. E então... bem, mal eu não saberia explicá-lo a você. Algo parecia dizer-me que eu me encontrava a beira de uma crise terrível em minha vida. Tomava-me a sensação estranha de que o Destino guardara pra mim, alegrias requintadas, tristezas requintadas. Fiquei com medo, vir-me-ei para deixar a sala. Não foi por consciência que o fiz: foi por uma espécie de covardia. Não credito a mim mesmo na tentativa de escapar.
- Consciência e covardia são a mesma coisa, Basil. Consciência é o nome comercial da firma, e só.
- Não acredito nisso, Harry, e creio que você não acredita também. Entretanto qualquer que tenha sido meu motivo – e pode ter sido orgulho, pois sempre fui muito orgulhoso -, o fato é que tentei chegar à porta. Ali é claro, esbarrei em Lady Brandon. Ela gritou: “Você não vai fugir tão cedo, não é, Sr. Hallward?”
...
- Não consegui me desvencilhar... Mas, de repente, vi-me frete a frete com o rapaz cuja personalidade me fizera estremecer. Estávamos bem próximos, quase nos tocávamos. Nossos olhos Mais uma vez se encontraram. Imprudência minha, pedia a Lady Brandon para apresentar-me a ele. Talvez não tenha sido tanta imprudência, afinal. Foi apenas inevitável, pois teríamos conversado um com outro, mesmo sem apresentação. Tenho certeza que sim. Depois Dorian disse a mesma coisa, pois, ele sentiu que estávamos destinados um para o outro."

[O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde - trecho retirado das páginas 12,13 e 14]

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